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Vitor Silva Tavares e a Religião do Capital
Revista Punkto
"A Ordem, pois. Graças a ela cresceram e multiplicaram-se, desfizeram-se e reciclaram-se Clãs, Tribos, Nações, Estados, Impérios. Por mor dela se ergueram torres e torres e pirâmides sociais – do maralhal da base aos sobas do topo. Para assegurá-la se armaram milícias, mercenários, verdugos, policias, tropas. Para espiritualizá-la se esgalharam metafísicas, credos, filosofias, catecismos. É que os homens são uns eternos insatisfeitos e depois há por ai, houve sempre e haverá, demasiado gentio a agredir meio mundo com a exibição das suas misérias e a vociferação dos seus rancores, quando não pronto a dar o corpo ao manifesto em momentos de aperto. Que fazer, na circunstância? Toca a salvaguardar os Valores, e à má-fila: com pau, calhau, pez, pistola, canhão, gás, granada, napalm, bomba atómica, que sei eu?, hipoteca e arresto de bens. Na Propriedade ninguém mexe porque é sagrada e o resto são conversas. Logo, decorre daí que não há guerra que não seja santa e como tal justificada: vá pois de malhar em mim, no sindicato, na greve, na revolta, na insurreição, no terrorismo internacional, no Inimigo à vista e a ver vamos. Nem que o berlinde estale de vez, dissipando-se na eternidade. Sem Valores é que nada feito…"
Nota da edição da Punkto Este texto de Vítor Silva Tavares foi publicado como prefácio à edição de “A Religião do Capital” de Paul Lafargue, traduzido pelo próprio Vítor Silva Tavares e por Célia Henriques e publicado em Abril de 1996 pela &etc. Transcrevemos e publicamos este texto como homenagem a Vítor Silva Tavares, que morreu no dia 21 de Setembro de 2015. http://www.revistapunkto.com
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